terça-feira, 1 de janeiro de 2008

A dor ração da poesia...

Beijar tua boca
Sentir meus lábios desenhando
a estrada dos prazeres
em teu corpo

Buscar-te
Caminharei sobre ti na noite sem fim
até chegar aos teus pés
e me entregar

Amar-te
Louvor adoração magia
Um rouxinol sonha com a rosa escarlate
Eu te sonho em meu ninho
de poesia

Nua
Sob o manto da infinita beleza,
amor, paixão e arte sonham
adorar-te...

Carmen Regina

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Ria, Rio, ria ! ! !

O RIO não ri
ainda flui
mas não ri
Ria, RIO, ria!

Onha bebeu mercúrio
tornou-se monstro-herói
devora donos de garimpo
Ria, RIO, ria!

RIO está anêmico
Lavadeira chora
Jequi pesca dor
Onha nada sonha...
Ria, RIO, ria!

RIO se enche de lágrimas
Às margens,
a mata é morta
Onha nada sonha...
Ria, RIO, ria!

Escaler furou
Escaler encalha
Escaler apodrece
Onha nada sonha...
Ria, RIO, ria!

Esperança
se esbarrou
em bancos de areia
Onha nada sonha...
Ria, RIO, ria!

As onhas
estão com sede
por IR A PÉ
Onha nada sonha...
Ria, RIO, ria!

RIO, murmuRia...
Vale sem RIO
não vale...
Onha nada sonha...
Ria, RIO, ria!

Lucas Machado de Matos Silva

domingo, 12 de agosto de 2007

Quase um poema de amor

Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.

Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
--- Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor

Miguel Torga

domingo, 3 de junho de 2007

Abstração

Não me conservo assim
tão apática e impune
por um simples nada.
Não fujo à vida, mas protejo a solidão
que com prudência respiro
(mesmo sentindo a agitação do medo).
Não me escondo assim
quase invisível e suave
por lícito direito
de um segredo.
Ou por sentir possível
a esperança,
ou qualquer outra hipótese
atraente.
Não me nego ser mulher e criança.
Decididamente.

Poesia - "Noites Sulferinas"
Olga Porto

sábado, 27 de janeiro de 2007

"Encontros"

Não te busquei...

Penso até,
que nem sequer te vi!

Sei que no meio da neblina
apenas te pressenti...

Eras uma flôr?
Eras um fruto?
Um Raio de Luz?
ou
talvez o Sol!


Não!
Eu não te busquei!

Apenas sei
que estavas lá!

Além,
no caminho das brumas!
na confluência dos Astros!
no encontro das águas!
Onde as energias
se libertam
e as forças ocultas
se degladiam .

Não te busquei, não!

Então,
Porque encontrei eu
esse maravilhoso alguém
no meio da multidão?

Luiza Caetano

Rumo

É tempo, companheiro!
Caminhemos ...
Longe, a Terra chama por nós,
e ninguém resiste à voz
Da Terra ...

Nela,
O mesmo sol ardente nos queimou
a mesma lua triste nos acariciou,
e se tu és negro e eu sou branco,
a mesma Terra nos gerou!

Vamos, companheiro ...
É tempo!

Que o meu coração
se abra à mágoa das tuas mágoas
e ao prazer dos teus prazeres
Irmão
Que as minhas mãos brancas se estendam
para estreitar com amor
as tuas longas mãos negras ...
E o meu suor
se junte ao teu suor,
quando rasgarmos os trilhos
de um mundo melhor!

Vamos!
que outro oceano nos inflama.. .
Ouves?
É a Terra que nos chama ...
É tempo, companheiro!
Caminhemos ...

Alda Lara

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio